Ela adorava ler manhã. Levantava-se num ápice, sentava-se na
cama com as pernas cruzadas e debruçava-se gentilmente sobre o livro, como se
carregasse a cabeça de um homem no seu colo. Folheava as suas páginas como se
fossem cabelos já crescidos e amanhados pelo tempo.
- Há céus que me fazem despertar mais cedo do sono. Como se
não houvesse tempo para haver sonho e música. Apenas o desabrochar dos olhos
nas órbitas, uma chávena de um líquido qualquer na mesa-de-cabeceira, um
pensamento longínquo em ti, meu amor. Então, seguro o livro lentamente e levito
como se dos capítulos romanos me invadissem os dedos enquanto o cheio a páginas
me penetra as narinas…
- Pára.
Fez-se um silêncio avassalador, como se ele estivesse ali
mesmo ao lado e tivesse sentido tudo.
- Paro?! Mesmo?!
- Sim, vou desligar.
Então, não se ouviu mais o som em redor, das obras, dos
vizinhos, de um avião sonhado… Qualquer mudez se intimidaria perante a música
daquele silêncio.
Ela sentiu a flecha do corte e soube que o amor não bastaria
jamais.
Deixou que o livro lhe caísse das mãos.
Enviou a mensagem “Vou partir”.
Eli
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